quinta-feira, 30 de maio de 2019
Scrophularia bourgaeana Lange
Passei pela serra de Arga para ver como estava uma das plantas que mais deleite me deu na sua descoberta. Estamos a falar de uma planta que eu próprio disse não existir aquando das primeiras reuniões do projecto do Livro Vermelho da Flora Vascular de Portugal. Afinal esta espécie não era um mito. Imagino a coragem que a grande botânica Ana Ortega Olivencia reuniu, para na sua tese de doutoramento, afirmar que esta planta existia no Minho, a quilómetros de distância do seu centro de distribuição nas serras de Bejar e Gredos. Como é que uma planta que crescia em linhas de água rochosas a mais de 2000 metros de altitude, poderia ter um habitat na zona do Minho? Mas a verdade é que a presença humana pode ser essencial para algumas espécies, quer seja para um urso, quer seja para um musgo. A domesticação das nossas linhas de água, quer sejam rios ou ribeiros, é tão antiga como a presença do Homem. Ninguém quer ser roubado na sua propriedade, e os rios e ribeiros podiam correr por outro lado, depois de uma tempestade mais violenta, ou pela queda de uma árvore. Agradeço ao Carlos Aguiar ter-me contado esta história da gestão dos amieiros. E os minhotos enrocaram os seus rios e ribeiros de forma fervorosa. Enrocar significa colocar pedras na margem para estabilizar as margens. E em alguns ribeiros da serra de Arga, para além de enrocadas, as margens não tinham qualquer árvore típica de ambientes ripícolas. Estamos a falar de um biótopo completamente artificializado, que apesar disso, era perfeito para esta espécie. As limpezas frequentes das margens ainda ajudavam mais a planta a sobreviver.
O mundo mudou. Já ninguém limpa com uma sachola a margem de uma ribeira. Usar herbicida tornou-se habitual na gestão da vegetação infestante. E apesar de achar que o herbicida pode ser perigoso para a presença da espécie, tal como diz o meu ilustre colega Paulo Araújo aqui, a falta de gestão será a sua certidão de óbito. Esta planta chegou aqui não sei como. Sobreviveu não sei como. Não sei dizer qual será o seu futuro neste local, e o meus conhecimentos de ecologia dizem-me que é imprevisível. A única coisa que posso dizer é que fazer conservação é difícil...
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Muito interessante!!
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