Inicio hoje uma série de posts, que se prolongará até ao início de Julho, sobre a flora deste lameiro:
Lameiro do Poulão (Portugal, Bragança, Nogueira).
41°46'42.71"N 6°47'47.92"W, 700 m altitude. Sedimentos neogénicos. Andar supramediterrânico sub-húmido. Vegetação Natural Potencial Climatófila: bosques de Quercus pyrenaica.
Durante o Inverno o lameiro do Poulão foi pastado de forma esporádica e extensiva, por ovelhas e vacas. Na semana passada, creio, foi fechado ao pastoreio. O solo está túrgido de água e chegou o calor. Os nutrientes arrastados dos terrenos vizinhos pela água da chuva estão a ser activamente absorvidos pelas raízes das plantas pratense (as raízes são activadas no final do Inverno, antes da parte aérea). A erva tem agora 3 a 3,5 meses para crescer, florir e produzir sementes, livre da herbivoria dos animais domésticos.
No início de Julho o lameiro será fenado, i.e. a sua erva será segada, seca ao ar, enfardada e transportada para um palheiro. Finda a vertigem reprodutora, as plantas pratenses descansarão até ao início das chuvas de Outono, estimuladas pelo encurtamento do comprimento do dia e o afundamento da tolha freática do solo.
Fez frio até ao final da semana que acaba de passar. Os ciclos fenológicos estão atrasados: escasseiam as flores. Encontrei dois Ranunculus em flor, e pouco mais:
Ranunculus hederaceus (Ranunculaceae), em águas paradas pouco profundas, expostas ao sol, moderadamente ricas em nutrientes, assentes num substrato enriquecido em argila e limo
Ranunculus ficaria, a primeira espécie de ranúnculo a florir, particularmente comum na vizinhança das cortinas arbóreas que marginam o lameiro. N.b. folhas cordadas (em forma de coração estilizado), cálice com 3 sépalas, corola com um número variável de pétalas (geralmente 7 a 9), estames infinitos (mais de 12) e gineceu apocárpico (de carpelos livres) evidente no centro da flor.
Mais duas ou três espécies de Ranunculus produzirão flores até ao fim do Verão: Ranunculus peltatus, nas linhas de água; R. bulbosus e, possivelmente, R. paludosus no prado. Vamos ver.
[fotos CA]