domingo, 2 de maio de 2010

Flora do lameiro do Poulão V: Alopecurus arundinaceus (Poaceae)

Interrompido o pastoreio, o lameiro do Poulão incha de erva. Quem manda nos lameiros em Maio e Junho são as gramíneas (= poáceas): os meristemas apicais destas plantas deixaram de produzir caule e folhas em Março, diferenciam agora flores; desde o início de Abril os entre-nós situados imediatamente abaixo da parte reprodutiva alongam-se aceleradamente pela acção de meristemas intercalares. As plantas prostradas produzem quanto antes sementes, preparando-se para serem submergidas por uma floresta de colmos (nome dado aos caules das gramíneas).

Entretanto floriu a primeira gramínea perene:


Alopecurus arundinaceus (Poaceae), a primeira gramínea a florir nos lameiros do NE de Trás-os-Montes. Tem uma clara preferência por solos encharcados bem expostos ao sol (vd. imagem 2). Ao mesmo género pertence o A. myosuroides, a mais temível infestante de cereais da Europa temperada; em Portugal as infestantes de cereais são outras.

Este ano foi particularmente chuvoso e muitos prados não puderam ser pastoreados em Março-inícios de Abril. Por outro lado há água em abundância, suficiente em muitos deles até ao fim de Junho, início de Julho. Consequentemente, em muitos lameiros a erva será muito alta, a produção de feno elevada, porém de qualidade baixa. Se a erva é muita, parte das folhas da base das gramíneas e de outras plantas não terão acesso à luz e apodrecerão. Fenos assim são pouco apreciados pelos animais.
Por hora não faltam ervas nos campos para alimentar ovelhas. Os lameiros de pasto alimentam as vacas. Mas aproxima-se o mês mais crítico na alimentação dos animais na montanha: Junho. O pouco feno que sobra do ano anterior já não presta, os animais torcem-lhe o nariz; os prados anuais de plantas indígenas estão cobertos de uma fina camada de plantas anuais secas, de baixa digestibilidade e proteína bruta; o lameiros de feno estão fechados a acumular biomassa; restolhos de cereais só mais tarde, depois da ceifa.
Ser agricultor na montanha não é tarefa fácil!

3 comentários:

  1. Bela gramínea, sem dúvida!
    Mas é curioso, nunca pensei que Junho, um mês de tanta exuberância vegetal nas regiões montanas, fosse o mês mais crítico na alimentação dos animais na montanha...

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  2. ZG, no post a montanha é entendida num sentido lato, i.e. andar supramediterrânico ou supratemperado. O mês de Junho é crítico na montanha mediterrânica nordestina, dos 700 aos 900(1000)m, onde se concentram as povoações. A maior altitude, e mais a oeste este período é mais tarde, assim como o corte e preparação do feno.

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  3. Caro CA, obrigado pela pronta e completa explicação!

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